Pelo menos nove aeroportos administrados pela Infraero deverão passar por obras em suas pistas de pouso e decolagem nos próximos meses. Em muitos casos, como nos aeroportos de Recife e de Campo Grande, haverá interdições parciais da pista e necessidade de remanejamento de voos. A concentração de obras no fim de 2013 e no início de 2014 tem levado as companhias aéreas a montar um quebra-cabeças para evitar transtornos nas operações. Especialistas advertem, no entanto, que a redistribuição de horários pode gerar enxugamento da oferta e aumenta os riscos de atrasos em cascata dos voos.
Em Recife, por exemplo, a pista passará por recapeamento da camada asfáltica em sua parte central. Para a execução dos serviços, as companhias aéreas foram notificadas de que haverá fechamento da pista entre os dias 2 de setembro e 19 de outubro, entre 0h e 7h. No aeroporto de Confins (MG), a pista será ampliada em 600 metros e as autoridades estão discutindo com as empresas em quais horários poderá haver interdições. Em Florianópolis, dois voos durante a madrugada precisarão ser remanejados, entre setembro e dezembro. Os aeroportos de Aracaju e Campo Grande, cujas obras de reforma das pistas ainda estão sendo licitadas, também deverão ter algumas restrições operacionais.
A Infraero informou ao Valor que intervenções em pistas de outros três aeroportos - Galeão (RJ), Belém e Uberlândia - não afetam a programação de voos das companhias. Em Curitiba, a reforma mudará horários de voos cargueiros, sem impacto para as operações da aviação comercial.
De acordo com Jenkins, todas essas obras quase simultaneamente desafiam as malhas das empresas aéreas, com a necessidade de reprogramação de dezenas de voos. Um dos problemas, conforme ele explica, é quando os voos envolvem saída ou chegada em aeroportos como Congonhas (SP) ou Santos Dumont (RJ). Eles têm menos horários disponíveis e o remanejamento é mais complicado, diz o diretor.
Para o especialista em direito aeronáutico Guilherme Amaral, do Aidar SBZ Advogados, fica evidenciado o gargalo da infraestrutura aeroportuária. "Quando ocorre esse tipo de intervenção nas pistas, que é necessária, faltam alternativas razoáveis para o remanejamento dos voos. O aeroporto mais perto, em muitos casos, está a 300 ou 400 quilômetros de distância."
Amaral lembra ainda que pode haver redução da oferta disponível e, consequentemente, aumento de tarifas. Além disso, com menos tempo para pousos e decolagens em muitas pistas, as malhas ficam mais suscetíveis a um "efeito dominó", em caso de atrasos em voos.
A Infraero destacou que todas as interdições de pistas que interferem na programação de voos são discutidas com antecedência entre a estatal, as empresas, a Secretaria de Aviação Civil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o Decea (controle de tráfego). O objetivo é dar tempo às companhias e garantir direitos dos passageiros.