Empresas brasileiras ajudam espionagem

07/08/2013 09:25

Autor: Renata Tranches

 

O jornalista americano Glenn Greenwald, autor das reportagens que expuseram o amplo esquema de espionagem do governo americano revelado pelo ex-analista Edward Snowden, afirmou ontem que empresas brasileiras de telecomunicação estariam colaborando com uma grande companhia americana para fornecer dados de usuários. O repórter do jornal britânico The Guardian fez a afirmação durante audiência pública mista das Comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado, ontem, mas não revelou mais detalhes. Na sabatina, ele sustentou que, embora o governo americano aponte o combate ao terrorismo como objetivo dos programas de vigilância, os dados coletados não se limitam a questões de segurança e seriam utilizados para outros fins — entre eles, obter vantagens em negociações comerciais.

Greenwald afirmou que os congressistas brasileiros têm mais condições de investigar as empresas que supostamente colaboram com a espionagem dos EUA na internet. Os políticos responderam que uma CPI mista foi proposta e deve ser instalada em breve. Entre outros pontos, ela investigará empresas brasileiras envolvidas no esquema. O jornalista disse que não dispõe de informações sobre essas companhias e não soube dizer se elas ajudam deliberadamente ou se tiveram dados coletados sem seu consentimento. Greenwald também preferiu não revelar qual seria a “grande empresa” americana.

Essa seria uma das futuras revelações que o jornalista tem prometido fazer. Greenwald diz ter em seu poder cerca de 25 mil documentos da inteligência repassados por Snowden, que trabalhou como analista de inteligência terceirizado para a Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês). A vastidão dos documentos vazados mostra, segundo Greenwald, como o governo americano não tem controle sobre o que é coletado pelos serviços de inteligência. Muitos dos programas, como foi revelado recentemente, são de fácil acesso aos funcionários terceirizados da NSA, estimados em cerca de 60 mil. O repórter fez uma comparação com a Alemanha, cujo serviço de inteligência conta com 300 funcionários. “O governo (americano) perdeu a capacidade de controlar um sistema desse tamanho”, afirmou.

As motivações invocadas por Greenwald para levar a público as revelações são as mesmas mencionadas por Snowden: ambos sustentam que agiram para mostrar ao mundo que os EUA quiseram minar a privacidade de indivíduos como forma de garantir seu poder. Mas o jornalista mostrou-se surpreso com o fato de apenas três países — Venezuela, Panamá e Bolívia — terem oferecido asilo ao ex-analista. Um grupo de simpatizantes de Snowden compareceu à audiência com máscaras que reproduziam o rosto do americano, que recebeu asilo temporário de um ano na Rússia. A decisão, que gerou um atrito diplomático entre Washington e Moscou, deve ser debatida na sexta-feira, em Washington, pelos titulares de Relações Exteriores e Defesa dos dois países. O presidente Barack Obama ameaça suspender o encontro marcado com o colega russo, Vladimir Putin, na capital russa, em setembro.


O governo (americano) perdeu a capacidade de controlar um sistema desse tamanho”

Glenn Greenwald, jornalista do diário britânico The Guardian.

 

Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2013